Dessa vez, Ricardo Amorim, economista mais influente do Brasil (segundo a Forbes), reflete os erros que continuam sendo cometidos há mais de três décadas
Por Ricardo Amorim
Em muitos debates sobre economia, um ponto essencial é ignorado com frequência: o real impacto dos gastos governamentais descontrolados nos bolsos dos muitos brasileiros. Trinta anos depois da implantação do Plano Real, muitos acreditam que aumentar os gastos públicos seria a forma de cuidar dos mais pobres. Infelizmente, por isso, ainda não ganhamos a guerra contra a pobreza, mesmo três décadas depois de havermos acabado com a hiperinflação.
Vamos voltar no tempo para entender melhor. A inflação acumulada no Brasil, medida pelo IPCA, desde o início dos anos 1980 até 1994, quando implementamos o Plano Real, atingiu mais de 13.000.000.000.000%. E quando a inflação é tão elevada, os efeitos para diferentes classes sociais são drasticamente diferentes.
Os mais pobres têm pouco dinheiro e gastam tudo o que ganham. São os mais negativamente afetados: 10% de alta nos preços pode ser a diferença entre poder comprar carne ou não.
Os mais ricos consomem menos que ganham. Com o que poupam, conseguem juntar alguns ativos e investir. Quando os preços sobem no mercado, o valor dos seus imóveis e aplicações financeiras também sobe, reduzindo o impacto negativo da inflação para eles. Além disso, eles continuam consumindo os mesmos produtos.
Portanto, a inflação não é neutra. Ela penaliza os mais pobres. Não por acaso, logo na sequência da implementação do Plano Real, com a queda brutal da inflação, tivemos a maior redução de miséria, pobreza e desigualdade de renda da história brasileira.
A falha no plano
A questão é que a chave do problema inflacionário no Brasil é simples: os gastos do governo não param de crescer. E quando os gastos públicos crescem, uma ou mais de três coisas tem de acontecer:
1. A inflação se acelera, fechando o desequilíbrio das contas públicas, já que a alta da inflação aumenta a arrecadação de impostos;
2. O governo aumenta impostos para bancar gastos maiores, tirando dos bolsos dos cidadãos dinheiro que poderia ser gasto por eles com produtos e serviços da sua escolha. Isso machuca ainda mais o mais pobre, que já não tinha nenhum recurso sobrando;
3. O governo financia os gastos maiores que a receita se endividando cada vez mais. Como muita gente sabe (aliás, todos deveriam saber), ninguém (governo, empresa ou família) pode se endividar cada vez mais, porque vai acabar quebrando, o que enfraquece a moeda local. A alta do dólar encarece produtos importados, o que faz a inflação subir, machucando mais quem? Exatamente: o mais pobre.
Paradoxalmente, diferentes governos que tivemos nos últimos 30 anos, incluindo o atual, continuam justificando gastos públicos crescentes como visando cuidar dos pobres. Na realidade, gastando demais, eles ampliam a pobreza. Já está mais que na hora que nosso país aprenda essa lição.
30 anos de Plano Real: a lição não aprendida
Dessa vez, Ricardo Amorim, economista mais influente do Brasil (segundo a Forbes), reflete os erros que continuam sendo cometidos há mais de três décadas
Por Ricardo Amorim
Em muitos debates sobre economia, um ponto essencial é ignorado com frequência: o real impacto dos gastos governamentais descontrolados nos bolsos dos muitos brasileiros. Trinta anos depois da implantação do Plano Real, muitos acreditam que aumentar os gastos públicos seria a forma de cuidar dos mais pobres. Infelizmente, por isso, ainda não ganhamos a guerra contra a pobreza, mesmo três décadas depois de havermos acabado com a hiperinflação.
Vamos voltar no tempo para entender melhor. A inflação acumulada no Brasil, medida pelo IPCA, desde o início dos anos 1980 até 1994, quando implementamos o Plano Real, atingiu mais de 13.000.000.000.000%. E quando a inflação é tão elevada, os efeitos para diferentes classes sociais são drasticamente diferentes.
Os mais pobres têm pouco dinheiro e gastam tudo o que ganham. São os mais negativamente afetados: 10% de alta nos preços pode ser a diferença entre poder comprar carne ou não.
Os mais ricos consomem menos que ganham. Com o que poupam, conseguem juntar alguns ativos e investir. Quando os preços sobem no mercado, o valor dos seus imóveis e aplicações financeiras também sobe, reduzindo o impacto negativo da inflação para eles. Além disso, eles continuam consumindo os mesmos produtos.
Portanto, a inflação não é neutra. Ela penaliza os mais pobres. Não por acaso, logo na sequência da implementação do Plano Real, com a queda brutal da inflação, tivemos a maior redução de miséria, pobreza e desigualdade de renda da história brasileira.
A falha no plano
A questão é que a chave do problema inflacionário no Brasil é simples: os gastos do governo não param de crescer. E quando os gastos públicos crescem, uma ou mais de três coisas tem de acontecer:
1. A inflação se acelera, fechando o desequilíbrio das contas públicas, já que a alta da inflação aumenta a arrecadação de impostos;
2. O governo aumenta impostos para bancar gastos maiores, tirando dos bolsos dos cidadãos dinheiro que poderia ser gasto por eles com produtos e serviços da sua escolha. Isso machuca ainda mais o mais pobre, que já não tinha nenhum recurso sobrando;
3. O governo financia os gastos maiores que a receita se endividando cada vez mais. Como muita gente sabe (aliás, todos deveriam saber), ninguém (governo, empresa ou família) pode se endividar cada vez mais, porque vai acabar quebrando, o que enfraquece a moeda local. A alta do dólar encarece produtos importados, o que faz a inflação subir, machucando mais quem? Exatamente: o mais pobre.
Paradoxalmente, diferentes governos que tivemos nos últimos 30 anos, incluindo o atual, continuam justificando gastos públicos crescentes como visando cuidar dos pobres. Na realidade, gastando demais, eles ampliam a pobreza. Já está mais que na hora que nosso país aprenda essa lição.
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