Em poucos quilômetros, a mente passeia entre memórias, ideias, desejos, soluções, medos e euforias. É quase uma sessão de terapia, sem intervalo
Por Marina Kocourek*
Meia Maratona de Florianópolis | Créditos: Foco Radical
Fora dos ruídos do mundo exterior, do celular que vibra a cada minuto, das telas, das distrações visuais, como anda o nosso mundo interno? Silencioso também? Ou ainda mais barulhento? Na maioria das vezes, não conseguimos desligar nem mesmo durante nossos momentos de lazer. Nossos hobbies, que deveriam nos conectar com o presente, acabam sendo vividos no piloto automático. E quando o hobby é o esporte, como fica a nossa cabeça naquele momento?
Durante um treino pesado, feito em silêncio e sem companhia, como se comporta nossa mente? Conseguimos viver o momento plenamente ou nos perdemos em pensamentos, devaneios, cobranças e expectativas? Nossa força mental trabalha a nosso favor ou contra?
Gosto de pensar que esse momento solitário com o corpo em movimento é uma oportunidade rara de escuta interna, de ajuste de rota, de encontro. Um treino pode nos trazer clareza ou confusão; pode ser o momento em que tudo faz sentido ou em que tudo parece desmoronar.
Na corrida, que é o meu esporte, e também o meu trabalho – já que levo mulheres para correr ao redor do mundo –, vejo esse fenômeno acontecer diversas vezes. Ao mesmo tempo em que a cabeça pode sabotar, ela pode empurrar; em poucos quilômetros, a mente passeia entre memórias, ideias, desejos, soluções, medos e euforias. É quase uma sessão de terapia em movimento, sem intervalo.
Falo por experiência. Eu mesma vivi isso de forma intensa. Fiz uma periodização sozinha e de luto, após ter recebido de presente do meu marido, poucos dias antes dele falecer, a inscrição para a última maratona que faltava para completar um ciclo de provas e receber a mandala da jornada Majors.
A inscrição em si não foi o presente; o verdadeiro presente foi o pedido dele para que eu não contasse para ninguém e treinasse tranquila, só eu e a corrida. Esse gesto acalmou meu coração, me ajudou a me conectar, a entender e a lutar contra a imensa dor que eu sentia. Me fez voltar a respirar e aceitar que não temos controle sobre nada, mas podemos aprender a lidar com tudo que a vida traz. Permiti que o ar entrasse nos meus pulmões, que o vento beijasse meu rosto e me trouxesse esperança, conforto e todas as lembranças boas.
Por isso, acredito que o esporte solitário pode ser nosso grande aliado para amenizar a dor e deixá-la no físico. Foi na solidão da corrida que encontrei abrigo e descobri que minha própria companhia em movimento foi minha maior aliada na reconstrução da minha vida.
Perguntei a alguns amigos corredores como funciona a cabeça deles enquanto correm, e as respostas revelaram algo em comum: mesmo quando há dor ou arrependimento, existe um reconhecimento de que aquele momento é único. Um agradecimento pelo corpo, pela saúde e pela conexão que o esporte proporciona.
Maratona do Rio (10k) | Créditos: Rafa Brunheroti e Ju HaesbaertIron Man Florianópolis 2025 | Créditos: Mario Forte
Marina Silveira Balau disse: “Foco meus pensamentos em conquistar! Pensamentos positivos e acreditando em mim. Em alguns momentos, do meio pra frente, seja por limites que minha cabeça me impõe, seja por dados do relógio, aparecem pensamentos sabotadores e me fazem diminuir o ritmo, poupar energia. Uma energia que, ao final, vejo que sobrou e que eu poderia ter dado mais”.
Já Rodrigo Aprilli descreveu assim: “Tem dia que estou resolvendo a vida, tem dia que só estou negociando comigo mesmo pra não desistir no próximo poste. Às vezes, penso nos meus filhos, outras vezes em Deus, mas, na maioria dos treinos longos, o pensamento vai longe; revivo decisões, reconstruo conversas, reescrevo capítulos do meu livro mental. Já me vi rindo sozinho. Já chorei também”. No fim, Rodrigo concluiu que segue correndo “porque correr é a forma mais pura que encontrei de estar comigo mesmo”.
Correr, pra mim, é isso: um divã em movimento, onde o psicólogo sou eu, o paciente sou eu e quem me escuta é o vento. Porque, sim, colocar a mente em estado positivo faz toda a diferença na corrida e na vida.
* Marina Kocourek é atleta e empresária no comando da 220Volts, uma agência de viagens que busca levar grupos de mulheres para correr em diferentes lugares do mundo.
Um divã em movimento: a forma como a corrida escuta a nossa alma
Em poucos quilômetros, a mente passeia entre memórias, ideias, desejos, soluções, medos e euforias. É quase uma sessão de terapia, sem intervalo
Por Marina Kocourek*
Fora dos ruídos do mundo exterior, do celular que vibra a cada minuto, das telas, das distrações visuais, como anda o nosso mundo interno? Silencioso também? Ou ainda mais barulhento? Na maioria das vezes, não conseguimos desligar nem mesmo durante nossos momentos de lazer. Nossos hobbies, que deveriam nos conectar com o presente, acabam sendo vividos no piloto automático. E quando o hobby é o esporte, como fica a nossa cabeça naquele momento?
Durante um treino pesado, feito em silêncio e sem companhia, como se comporta nossa mente? Conseguimos viver o momento plenamente ou nos perdemos em pensamentos, devaneios, cobranças e expectativas? Nossa força mental trabalha a nosso favor ou contra?
Gosto de pensar que esse momento solitário com o corpo em movimento é uma oportunidade rara de escuta interna, de ajuste de rota, de encontro. Um treino pode nos trazer clareza ou confusão; pode ser o momento em que tudo faz sentido ou em que tudo parece desmoronar.
Na corrida, que é o meu esporte, e também o meu trabalho – já que levo mulheres para correr ao redor do mundo –, vejo esse fenômeno acontecer diversas vezes. Ao mesmo tempo em que a cabeça pode sabotar, ela pode empurrar; em poucos quilômetros, a mente passeia entre memórias, ideias, desejos, soluções, medos e euforias. É quase uma sessão de terapia em movimento, sem intervalo.
Falo por experiência. Eu mesma vivi isso de forma intensa. Fiz uma periodização sozinha e de luto, após ter recebido de presente do meu marido, poucos dias antes dele falecer, a inscrição para a última maratona que faltava para completar um ciclo de provas e receber a mandala da jornada Majors.
A inscrição em si não foi o presente; o verdadeiro presente foi o pedido dele para que eu não contasse para ninguém e treinasse tranquila, só eu e a corrida. Esse gesto acalmou meu coração, me ajudou a me conectar, a entender e a lutar contra a imensa dor que eu sentia. Me fez voltar a respirar e aceitar que não temos controle sobre nada, mas podemos aprender a lidar com tudo que a vida traz. Permiti que o ar entrasse nos meus pulmões, que o vento beijasse meu rosto e me trouxesse esperança, conforto e todas as lembranças boas.
Por isso, acredito que o esporte solitário pode ser nosso grande aliado para amenizar a dor e deixá-la no físico. Foi na solidão da corrida que encontrei abrigo e descobri que minha própria companhia em movimento foi minha maior aliada na reconstrução da minha vida.
Perguntei a alguns amigos corredores como funciona a cabeça deles enquanto correm, e as respostas revelaram algo em comum: mesmo quando há dor ou arrependimento, existe um reconhecimento de que aquele momento é único. Um agradecimento pelo corpo, pela saúde e pela conexão que o esporte proporciona.
Marina Silveira Balau disse: “Foco meus pensamentos em conquistar! Pensamentos positivos e acreditando em mim. Em alguns momentos, do meio pra frente, seja por limites que minha cabeça me impõe, seja por dados do relógio, aparecem pensamentos sabotadores e me fazem diminuir o ritmo, poupar energia. Uma energia que, ao final, vejo que sobrou e que eu poderia ter dado mais”.
Já Rodrigo Aprilli descreveu assim: “Tem dia que estou resolvendo a vida, tem dia que só estou negociando comigo mesmo pra não desistir no próximo poste. Às vezes, penso nos meus filhos, outras vezes em Deus, mas, na maioria dos treinos longos, o pensamento vai longe; revivo decisões, reconstruo conversas, reescrevo capítulos do meu livro mental. Já me vi rindo sozinho. Já chorei também”. No fim, Rodrigo concluiu que segue correndo “porque correr é a forma mais pura que encontrei de estar comigo mesmo”.
Correr, pra mim, é isso: um divã em movimento, onde o psicólogo sou eu, o paciente sou eu e quem me escuta é o vento. Porque, sim, colocar a mente em estado positivo faz toda a diferença na corrida e na vida.
* Marina Kocourek é atleta e empresária no comando da 220Volts, uma agência de viagens que busca levar grupos de mulheres para correr em diferentes lugares do mundo.
Leia também:
Leia também
Tadeu Rossi dá dicas de make para o Ribeirão Rodeo Music
Para quem gosta de pele iluminada, Fox Eyes e batom nude, esse …
Skincare para crianças é saudável? Dermatologista responde
Com a onda crescente de crianças interessadas em cuidados com a pela, …
Botticelli Bob: o corte de cabelo que é tendência para o verão!
As celebridades já estão adotando o Botticeli Bob para exalar estilo sem …
Gosta de correr? Saiba como massagens podem melhorar seu desempenho
A corrida traz muitos benefícios à saúde, mas a prática intensa desse …