No Tui, cada temporada conta uma nova história

O restaurante se adapta às estações e às descobertas do chef Adriano Rondinelli e, para quem gosta de gastronomia de verdade, isso faz toda a diferença

Por Neto Costa* 

Desde a inauguração do Tui, virei cliente de carteirinha. O restaurante é daqueles lugares onde você volta porque sempre tem algo diferente acontecendo. Quando digo “diferente”, não é força de expressão: o menu muda mesmo, os pratos evoluem e a experiência se transforma a cada visita.

A casa é comandada pelo chef Adriano Rondinelli, que já era conhecido na cidade e região muito antes de abrir o Tui. Sua trajetória inclui uma passagem marcante pelo restaurante Attimo Per Quattro, a 1ª casa do chef Jefferson Rueda antes de inaugurar a Casa do Porco. Essa experiência foi essencial para moldar a visão de cozinha de Adriano.

Depois disso, já como chef consultor, ele ajudou vários restaurantes a abrir as portas e participou do desenvolvimento de cardápios como do Rod Parrilla, Saikoo e do Tennessee Steak House. Tal experiência, transitando entre diferentes cozinhas, deu a ele um repertório que hoje se traduz na proposta autoral do Tui Restaurante.

Um espaço que convida ao olhar

A amoreira na entrada já virou quase um cartão postal do restaurante. É impossível não reparar nela, antes de entrar no salão aberto, com pé-direito alto e uma amplitude que deixa tudo mais leve, mais respirável. Você não se sente espremido entre as mesas e tem espaço para relaxar.

Contudo, o grande destaque é a cozinha aberta. Diferentemente do tradicional, em que você vê de longe, através de um vidro, a cozinha do Tui Restaurante permite acompanhar todos os preparos diretamente do salão, assistindo a equipe trabalhando, os pratos sendo montados, as técnicas sendo aplicadas. O sentimento é o mesmo de assistir a uma coreografia bem ensaiada, na qual cada movimento tem propósito.

Essa transparência cria uma conexão diferente com a comida, já que você sabe quem está preparando, vê o cuidado em cada etapa, entende que aquilo não é só um prato bonito, que tem trabalho sério por trás. Em outras palavras, entende que é uma escolha de design que vai além da estética, que fala sobre a filosofia do lugar.

A cada visita, uma experiência

O menu degustação do chef Adriano Rondinelli é sazonal. Traduzindo: não espere comer o mesmo prato que você comeu três ou quatro meses atrás. Ele muda conforme as inspirações e vivências do chef, a depender dos ingredientes que estão no auge da estação ou do que está fazendo sentido naquele momento.

Lembro até hoje de um dos hits do 1º menu degustação: a pururuca de pele de frango com tartar de atum. Parece inusitado no papel, mas na prática é genial! A crocância da pele, a maciez do atum, texturas e sabores que conversam de um jeito que você não espera. É o tipo de combinação que mostra a coragem do chef em experimentar e em sair do óbvio.

O menu não muda toda semana, claro, mas quando muda, muda de verdade. É uma reformulação pensada, que traz novas inspirações e vivências, com ingredientes que fazem sentido naquele momento. Para quem frequenta regularmente, como eu, isso cria aquela expectativa boa de saber que, em algum momento, terá algo completamente novo para experimentar.

Tem gente que prefere ter seus pratos favoritos sempre disponíveis, poder voltar e pedir aquela entrada específica que marcou – e eu entendo. Mas tem algo fascinante em acompanhar essa evolução, em perceber como o chef está pensando a comida agora, quais ingredientes estão chamando a atenção dele, que técnicas ele está explorando no momento.

Vale dizer que nem tudo muda o tempo todo. O menu a la carte, por exemplo, tem alguns pratos que se firmaram, como o caso do arroz de pato com linguiça – o sabor intenso do pato equilibrado pela linguiça é o tipo de receita que funciona sempre. São pratos que mostram domínio técnico e, ao mesmo tempo, têm aquele conforto que buscamos quando queremos comer bem, sem firulas.

O impacto na cidade

O Tui Restaurante com certeza mudou a cena gastronômica de Ribeirão Preto graças à proposta diferente que traz. A casa reafirma a culinária contemporânea no paladar ribeirão-pretano e constrói uma base solidificada a partir da trajetória de Adriano como consultor. Quando o Tui abriu, não era um chef estreante testando uma ideia; era alguém que já tinha provado que sabia o que estava fazendo e que estava pronto para colocar sua própria visão em prática.

A maneira como o restaurante funciona acabou influenciando o que o público local passou a buscar e valorizar em termos de experiência gastronômica. Hoje, vemos mais gente em Ribeirão interessada em entender de onde vem o ingrediente, como foi preparado, qual a história por trás do prato.

Motivos para voltar

Por não ser um restaurante estático, o Tui se adapta às estações e às descobertas do chef e, para quem gosta de gastronomia de verdade, isso faz toda a diferença. Você não está apenas comendo bem, está acompanhando o processo criativo de alguém que leva a cozinha a sério, que estuda, que viaja, que experimenta e traz essas experiências para o prato.

Tem algo também sobre a consistência dentro da mudança. O menu muda, mas a qualidade não oscila; a execução continua precisa, os ingredientes seguem sendo bem escolhidos, a experiência mantém aquele nível que você espera quando volta. É essa combinação, de evolução constante com confiabilidade, que me leva de volta. Sempre.

Se você nunca foi, vale a visita. Se já conhece; mas não volta há um tempo, vale dar uma passada de novo. Provavelmente você encontrará um menu completamente diferente do que já conheceu. E é exatamente esse o ponto. O Tui não quer que você coma a mesma coisa; ele quer que você viva uma experiência nova a cada vez.

E tem novidade vindo por aí: a partir de outubro, o Tui passa a abrir uma vez por mês no almoço de domingo, com um chef convidado cozinhando ao lado do Adriano. É mais uma forma de manter o restaurante vivo, em movimento, trazendo novas perspectivas e diálogos gastronômicos. Para quem já frequenta o Tui, é mais uma razão para acompanhar de perto o que está acontecendo por lá.

* Neto Costa é sócio da Centro CATE Consultoria, criador do perfil @dochefamesa, especialista em experiências gastronômicas e idealizador do primeiro ranking gastronômico de Ribeirão Preto.