Talvez o segredo esteja em ressignificar as pausas. Elas não são fracassos, mas parte do processo
Por Marina Kocourek*
Voltar a se exercitar depois de uma pausa é um dos maiores desafios da vida adulta. Não importa se “o tempo off” foi de algumas semanas, meses ou até anos: o corpo sente, a mente resiste e, muitas vezes, a rotina conspira contra nós.
Nos depoimentos que ouvi de mulheres, um ponto se repete: a vida familiar. Para muitas, abrir mão do exercício não foi exatamente uma escolha, mas uma necessidade para dar conta de tudo, dos cuidados, afetos e atenções. O trabalho, as preocupações do dia a dia, a exaustão mental e os empecilhos inesperados que a vida traz também pesam. Não é só o corpo que cansa; a mente também encontra barreiras para se organizar e para manter a constância.
Há ainda as lesões – aquelas pequenas ou grandes interrupções que nos lembram que o corpo impõe seus limites. Quem já se machucou sabe que, mais difícil que parar, é lidar com a sensação de que o progresso foi interrompido e que talvez nunca se volte ao ponto em que estava.
Nem toda pausa nasce das demandas externas ou das lesões. Algumas vezes, parar é uma escolha, uma decisão consciente de não estar sob a cobrança constante de treinar, de marcar quilômetros, de postar resultados. Uma escolha por priorizar outras áreas da vida: a mente, o descanso, os afetos ou até um silêncio que o corpo e o coração pedem. Essas pausas voluntárias carregam a potência de mostrar que o exercício não precisa ser prisão e, sim, liberdade. Escolher parar também é exercício de força, talvez não dos músculos, mas da autonomia.
O momento da volta
O retorno, no entanto, carrega um peso simbólico enorme. Não é sobre correr, pedalar, nadar ou ir à academia; é se reconectar com uma parte de si mesma. Talvez por isso seja tão difícil, porque exige coragem para enfrentar a comparação com a versão do “antes” e, ao mesmo tempo, compaixão para aceitar a nova versão do “agora”.
Talvez o segredo esteja em ressignificar as pausas. Elas não são fracassos, mas parte do processo. A vida não acontece em linha reta, nem no esporte, nem na rotina, nem nos afetos. O exercício físico, quando volta, pode se tornar ainda mais poderoso no cuidado com o corpo e como uma forma de lembrar a nós mesmas que ainda estamos aqui, firmes, mesmo que com intervalos, mesmo que recomeçando, porque as prioridades sempre se alternam, mas lembramos que nos cuidar, por nós mesmas, e para cuidar de todo o resto, é o que vale.
Cada retorno é também uma vitória: tanto para nos voltarmos ao que necessitamos, como para o exercício físico. Aceitando a um convite meu, duas amigas partilham um pouco das suas experiências com esse momento de retorno ao esporte:
Marília Yoo
Marília Yoo
“Sou atleta amadora e nunca me vi completa em apenas um esporte. Há 15 anos pratico artes marciais e, em paralelo, encontrei na corrida um espaço para me desafiar de novas formas. A corrida entrou como hobby, mas, com o tempo, se tornou meu termômetro de evolução – não em números ou ego, mas em resiliência, resistência e, sobretudo, na forma de encarar a vida.
Treinar para uma maratona não é simples, é exigente, dolorido e requer disciplina. Mas é justamente nesse processo que descubro que preciso diversificar meus desafios para não estagnar. Não sigo uma rotina intensa e linear de treinos da corrida, eu organizo de acordo com as provas que escolho e nunca abandono os treinos de força. Às vezes, o objetivo é um índice mais competitivo; outras vezes, é simplesmente provar a mim mesma que posso voltar mais forte após momentos desafiadores, como no pós-parto dos meus dois filhos (sim, tenho um bebê de 8 meses em casa).
A volta nunca é fácil. O corpo pede tempo, a mente quer executar rápido. É preciso respeitar os limites para não lesionar, confiar no processo e acreditar que a memória muscular, a cabeça forte e um bom treinador vão te levar lá (além de toda a ajuda nutricional e suplementação que eu possa utilizar). Aliás, conciliar a rotina de treino em época de preparo para maratonas com a rotina das crianças e casa não é lá coisa simples. Também exige planejamento, organização e parceria.
Seria impossível fazer isso sem o apoio do meu marido, que me incentiva e ampara em cada desafio pessoal. Dentro da minha rotina, estilo de vida e momento atual, seria inviável treinar para mais de uma prova destas por ano. Me manter ativa em outras modalidades, como boxe e musculação, nos períodos de pausa da corrida, acredito que seja meu segredo.
A meta aqui já tem data e está traçada: meu próximo desafio será a Maratona de Londres, em abril de 2026, e a minha linha de chegada será pra lá de especial, com marido e filhos me esperando do outro lado. Depois de lá? Acho que um bom pint de cerveja inglesa e uma pequena pausa da corrida cairiam bem – até o próximo ano (rs)”.
Naiara Xavier
Naiara Xavier
“Quando a Marina Kocourek me convidou pra contar minha história de recuperação de lesão na corrida, fiquei super comovida, porque não imaginava que isso pudesse interessar outras corredoras… afinal, a gente se acostumou a só ouvir e ler sobre recordes e desempenho. E a verdade é que recuperação tem a ver com aceitação. Então, vou explicar melhor o que passei.
Corri minha 1ª maratona em 2011 e me apaixonei pela distância. Eu adorava o processo todo, os longos sempre foram meus treinos favoritos. Com a regularidade e disciplina nas preparações, meus resultados foram melhorando e eu passei a me cobrar mais. Depois de seis anos, em 2017, tive a 1ª tendinite mais grave e fiquei quatro meses sem correr. A partir disso, enfrentei várias outras pequenas lesões.
O 1º susto real veio em 2019 quando precisei operar o pé. Foram seis meses até recomeçar os trotes e, mesmo assim, tudo bem controlado.
Voltei pras maratonas e, devagarinho, fui me acostumando com minha nova pisada. Mas, em 2023, durante os treinos pra minha 4ª maratona em Porto Alegre (RS), passei a sentir uma falha no quadril direito. Já fazia Pilates e a prática conseguiu me manter alongada e alinhada o suficiente pra terminar a preparação e completar bem os 42km.
Logo depois da prova, o quadril piorou muito e eu mancava até pra caminhar, quase o tempo todo… correr ficou impossível. Procurei vários médicos, até que um aceitou meu caso e, com muita honestidade, me explicou que mesmo com a cirurgia não teria como prever se eu voltaria para as corridas. O procedimento foi super bem, ele fez uma osteoplastia, uma limpeza da articulação, desfez uma dobra da cartilagem e suturou uma lesão de labrum. Mas a recuperação foi absurdamente longa! Dei sorte com uma equipe tão competente!
E aí veio a parte sofrida, mas bem legal também: voltei a trotar após seis meses. Só conseguia correr 1km contínuo, precisava parar pra descansar e tentar mais 1km. Foram meses até conseguir emendar 2km, às vezes desanimava com aquela passada tão curtinha e a sensação de pancada no quadril operado, mas fui aprendendo que qualquer quilômetro em qualquer velocidade era melhor que zero. Demorou um ano da cirurgia para conseguir correr 10km e foi um dos dias mais felizes da minha vida.
Hoje, ainda manco ocasionalmente, mas em geral nem me lembro da cirurgia. Já consigo correr 12km contínuos e, às vezes, faço treinos com pequenos intervalos mais rápidos, para melhorar a passada.
Não sei se ainda correrei outra maratona, também não me preocupo tanto com isso. O processo de recuperação me fez gostar ainda mais da corrida por si só, sem precisar de provas ou metas. Só correr mesmo já me deixa feliz”.
* Marina Kocourek é atleta e empresária no comando da 220Volts, uma agência de viagens que busca levar grupos de mulheres para correr em diferentes lugares do mundo.
O desafio de recomeçar os exercícios físicos
Talvez o segredo esteja em ressignificar as pausas. Elas não são fracassos, mas parte do processo
Por Marina Kocourek*
Voltar a se exercitar depois de uma pausa é um dos maiores desafios da vida adulta. Não importa se “o tempo off” foi de algumas semanas, meses ou até anos: o corpo sente, a mente resiste e, muitas vezes, a rotina conspira contra nós.
Nos depoimentos que ouvi de mulheres, um ponto se repete: a vida familiar. Para muitas, abrir mão do exercício não foi exatamente uma escolha, mas uma necessidade para dar conta de tudo, dos cuidados, afetos e atenções. O trabalho, as preocupações do dia a dia, a exaustão mental e os empecilhos inesperados que a vida traz também pesam. Não é só o corpo que cansa; a mente também encontra barreiras para se organizar e para manter a constância.
Há ainda as lesões – aquelas pequenas ou grandes interrupções que nos lembram que o corpo impõe seus limites. Quem já se machucou sabe que, mais difícil que parar, é lidar com a sensação de que o progresso foi interrompido e que talvez nunca se volte ao ponto em que estava.
Nem toda pausa nasce das demandas externas ou das lesões. Algumas vezes, parar é uma escolha, uma decisão consciente de não estar sob a cobrança constante de treinar, de marcar quilômetros, de postar resultados. Uma escolha por priorizar outras áreas da vida: a mente, o descanso, os afetos ou até um silêncio que o corpo e o coração pedem. Essas pausas voluntárias carregam a potência de mostrar que o exercício não precisa ser prisão e, sim, liberdade. Escolher parar também é exercício de força, talvez não dos músculos, mas da autonomia.
O momento da volta
O retorno, no entanto, carrega um peso simbólico enorme. Não é sobre correr, pedalar, nadar ou ir à academia; é se reconectar com uma parte de si mesma. Talvez por isso seja tão difícil, porque exige coragem para enfrentar a comparação com a versão do “antes” e, ao mesmo tempo, compaixão para aceitar a nova versão do “agora”.
Talvez o segredo esteja em ressignificar as pausas. Elas não são fracassos, mas parte do processo. A vida não acontece em linha reta, nem no esporte, nem na rotina, nem nos afetos. O exercício físico, quando volta, pode se tornar ainda mais poderoso no cuidado com o corpo e como uma forma de lembrar a nós mesmas que ainda estamos aqui, firmes, mesmo que com intervalos, mesmo que recomeçando, porque as prioridades sempre se alternam, mas lembramos que nos cuidar, por nós mesmas, e para cuidar de todo o resto, é o que vale.
Cada retorno é também uma vitória: tanto para nos voltarmos ao que necessitamos, como para o exercício físico. Aceitando a um convite meu, duas amigas partilham um pouco das suas experiências com esse momento de retorno ao esporte:
Marília Yoo
“Sou atleta amadora e nunca me vi completa em apenas um esporte. Há 15 anos pratico artes marciais e, em paralelo, encontrei na corrida um espaço para me desafiar de novas formas. A corrida entrou como hobby, mas, com o tempo, se tornou meu termômetro de evolução – não em números ou ego, mas em resiliência, resistência e, sobretudo, na forma de encarar a vida.
Treinar para uma maratona não é simples, é exigente, dolorido e requer disciplina. Mas é justamente nesse processo que descubro que preciso diversificar meus desafios para não estagnar. Não sigo uma rotina intensa e linear de treinos da corrida, eu organizo de acordo com as provas que escolho e nunca abandono os treinos de força. Às vezes, o objetivo é um índice mais competitivo; outras vezes, é simplesmente provar a mim mesma que posso voltar mais forte após momentos desafiadores, como no pós-parto dos meus dois filhos (sim, tenho um bebê de 8 meses em casa).
A volta nunca é fácil. O corpo pede tempo, a mente quer executar rápido. É preciso respeitar os limites para não lesionar, confiar no processo e acreditar que a memória muscular, a cabeça forte e um bom treinador vão te levar lá (além de toda a ajuda nutricional e suplementação que eu possa utilizar). Aliás, conciliar a rotina de treino em época de preparo para maratonas com a rotina das crianças e casa não é lá coisa simples. Também exige planejamento, organização e parceria.
Seria impossível fazer isso sem o apoio do meu marido, que me incentiva e ampara em cada desafio pessoal. Dentro da minha rotina, estilo de vida e momento atual, seria inviável treinar para mais de uma prova destas por ano. Me manter ativa em outras modalidades, como boxe e musculação, nos períodos de pausa da corrida, acredito que seja meu segredo.
A meta aqui já tem data e está traçada: meu próximo desafio será a Maratona de Londres, em abril de 2026, e a minha linha de chegada será pra lá de especial, com marido e filhos me esperando do outro lado. Depois de lá? Acho que um bom pint de cerveja inglesa e uma pequena pausa da corrida cairiam bem – até o próximo ano (rs)”.
Naiara Xavier
“Quando a Marina Kocourek me convidou pra contar minha história de recuperação de lesão na corrida, fiquei super comovida, porque não imaginava que isso pudesse interessar outras corredoras… afinal, a gente se acostumou a só ouvir e ler sobre recordes e desempenho. E a verdade é que recuperação tem a ver com aceitação. Então, vou explicar melhor o que passei.
Corri minha 1ª maratona em 2011 e me apaixonei pela distância. Eu adorava o processo todo, os longos sempre foram meus treinos favoritos. Com a regularidade e disciplina nas preparações, meus resultados foram melhorando e eu passei a me cobrar mais. Depois de seis anos, em 2017, tive a 1ª tendinite mais grave e fiquei quatro meses sem correr. A partir disso, enfrentei várias outras pequenas lesões.
O 1º susto real veio em 2019 quando precisei operar o pé. Foram seis meses até recomeçar os trotes e, mesmo assim, tudo bem controlado.
Voltei pras maratonas e, devagarinho, fui me acostumando com minha nova pisada. Mas, em 2023, durante os treinos pra minha 4ª maratona em Porto Alegre (RS), passei a sentir uma falha no quadril direito. Já fazia Pilates e a prática conseguiu me manter alongada e alinhada o suficiente pra terminar a preparação e completar bem os 42km.
Logo depois da prova, o quadril piorou muito e eu mancava até pra caminhar, quase o tempo todo… correr ficou impossível. Procurei vários médicos, até que um aceitou meu caso e, com muita honestidade, me explicou que mesmo com a cirurgia não teria como prever se eu voltaria para as corridas. O procedimento foi super bem, ele fez uma osteoplastia, uma limpeza da articulação, desfez uma dobra da cartilagem e suturou uma lesão de labrum. Mas a recuperação foi absurdamente longa! Dei sorte com uma equipe tão competente!
E aí veio a parte sofrida, mas bem legal também: voltei a trotar após seis meses. Só conseguia correr 1km contínuo, precisava parar pra descansar e tentar mais 1km. Foram meses até conseguir emendar 2km, às vezes desanimava com aquela passada tão curtinha e a sensação de pancada no quadril operado, mas fui aprendendo que qualquer quilômetro em qualquer velocidade era melhor que zero. Demorou um ano da cirurgia para conseguir correr 10km e foi um dos dias mais felizes da minha vida.
Hoje, ainda manco ocasionalmente, mas em geral nem me lembro da cirurgia. Já consigo correr 12km contínuos e, às vezes, faço treinos com pequenos intervalos mais rápidos, para melhorar a passada.
Não sei se ainda correrei outra maratona, também não me preocupo tanto com isso. O processo de recuperação me fez gostar ainda mais da corrida por si só, sem precisar de provas ou metas. Só correr mesmo já me deixa feliz”.
* Marina Kocourek é atleta e empresária no comando da 220Volts, uma agência de viagens que busca levar grupos de mulheres para correr em diferentes lugares do mundo.
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