As cidades brasileiras são marcadas por diversos padrões de desigualdade social. Centro e periferia caracterizam no território a assimetria de acesso a oportunidades e a infraestrutura, como equipamentos de saúde, cultura, educação, transporte, áreas verdes, entre outros. Em São Paulo, morar em bairros centrais pode garantir, inclusive, muitos anos a mais na expectativa de vida, evidência concreta de que espaço urbano não é só o contexto em que as relações sociais se desenrolam, mas a parte decisiva em destinos pessoais.
Para discutir melhor o assunto, a coluna de hoje bate um papo com Anna Lyvia Ribeiro, advogada, mestre em direito, especialista em Direito Notarial e Registral Imobiliário, Presidente da Comissão Especial de Direito Imobiliário da OAB SP e autora do livro “Racismo Estrutural e Aquisição da Propriedade”.
Anna, qual é o papel do setor imobiliário para este contexto?
O setor imobiliário é um dos atores principais quando pensamos na ocupação do espaço urbano, em uma cidade mais inclusiva, que consiga oferecer melhores oportunidades para todos. O setor imobiliário e as cidades devem pensar em políticas públicas e possibilidades de trazer mais estrutura para locais que não têm equipamentos públicos ou estrutura que possibilite um melhor desenvolvimento de atividades econômicas.
Entendo que o papel do setor imobiliário seria pensar na possibilidade de desenvolvimento em locais que não têm tanta estrutura ou que acabam sendo considerados, pelo mercado, não tão vantajosos. Seria um investimento, pensando na possibilidade de um novo olhar para determinadas regiões dos municípios.
O racismo estrutural e o privilégio racial na aquisição da propriedade são elementos centrais na formação do espaço urbano, principalmente em São Paulo. Como empresas e profissionais ligados à comercialização de imóveis podem atuar por um setor mais diverso e inclusivo?
Eu entendo que tudo começa pela conscientização e pela compreensão do que significa isso. Entender a formação da nossa sociedade e todo o histórico envolvido. E a partir dessa compreensão da perspectiva de privilégio racial dentro de todas as nossas relações, inclusive na celebração de qualquer negócio imobiliário, que esse setor, as empresas e os profissionais envolvidos tenham esse olhar para essa dinâmica, que por vezes acaba prejudicando e não trazendo um exercício do seu direito de adquirir, locar e realizar negócios. E também de ter uma ocupação da cidade que traga mais benefícios para a população negra em geral.
Nós temos no Estado de São Paulo uma legislação atrelada a parte de discriminação, que abarca essa indicação de uma discriminação envolvendo alguma atividade relacionada à aquisição ou ocupação de imóveis. Precisamos trazer esse conhecimento para os profissionais para a compreensão dessa realidade, que muitas vezes não é de conhecimento de todos. Além de trazer isso para o dia a dia de profissionais e empresas.
E nesse contexto, do que se trata, como identificar e endereçar o racismo imobiliário no contexto condominial?
Isso acontece quando nós estamos em um contexto que se atrela a pessoa negra em uma condição socioeconômica inferior, onde ela não estaria apta a ocupar aquele condomínio. Comumente, esse racismo imobiliário está atrelado a manifestações que não identificam aquela pessoa como possível integrante do condomínio. E isso pode chegar a um contexto envolvendo o uso de elevadores, direcionando a pessoa para a utilização dos elevadores de serviço, por exemplo.
O racismo imobiliário tem, no contexto condominial, essas manifestações. Algumas vezes podem ser manifestações sutis, mas estão inseridas nesse contexto de não integração da pessoa naquele ambiente.
E tudo isso é explicado pelo fato da nossa formação social ser baseada nesse contexto histórico, de entender que havia uma hierarquia, uma superioridade de um grupo social. Isso foi se transformando ao longo do tempo, mas está intrínseco no nosso pensamento social e há toda essa identificação quando se trata de pessoas negras.
E a cidade é o reflexo da sociedade. A gente precisa trazer a conscientização para dentro do setor imobiliário, das empresas e profissionais.
Elisa Tawil é LinkedIn Top Voices e TEDxSpeaker. Mentora, consultora estratégica de negócios, podcaster pelo Vieses Femininos. Idealizadora e fundadora do movimento Mulheres do Imobiliário. Colunista na revista HSM, no Imobi Report e na EXAME Invest. Head de Growth e Onboarding Specialist na eXp Realty Brasil.
O mercado imobiliário e a desigualdade social
POR ELISA TAWIL
As cidades brasileiras são marcadas por diversos padrões de desigualdade social. Centro e periferia caracterizam no território a assimetria de acesso a oportunidades e a infraestrutura, como equipamentos de saúde, cultura, educação, transporte, áreas verdes, entre outros. Em São Paulo, morar em bairros centrais pode garantir, inclusive, muitos anos a mais na expectativa de vida, evidência concreta de que espaço urbano não é só o contexto em que as relações sociais se desenrolam, mas a parte decisiva em destinos pessoais.
Para discutir melhor o assunto, a coluna de hoje bate um papo com Anna Lyvia Ribeiro, advogada, mestre em direito, especialista em Direito Notarial e Registral Imobiliário, Presidente da Comissão Especial de Direito Imobiliário da OAB SP e autora do livro “Racismo Estrutural e Aquisição da Propriedade”.
Anna, qual é o papel do setor imobiliário para este contexto?
O setor imobiliário é um dos atores principais quando pensamos na ocupação do espaço urbano, em uma cidade mais inclusiva, que consiga oferecer melhores oportunidades para todos. O setor imobiliário e as cidades devem pensar em políticas públicas e possibilidades de trazer mais estrutura para locais que não têm equipamentos públicos ou estrutura que possibilite um melhor desenvolvimento de atividades econômicas.
Entendo que o papel do setor imobiliário seria pensar na possibilidade de desenvolvimento em locais que não têm tanta estrutura ou que acabam sendo considerados, pelo mercado, não tão vantajosos. Seria um investimento, pensando na possibilidade de um novo olhar para determinadas regiões dos municípios.
O racismo estrutural e o privilégio racial na aquisição da propriedade são elementos centrais na formação do espaço urbano, principalmente em São Paulo. Como empresas e profissionais ligados à comercialização de imóveis podem atuar por um setor mais diverso e inclusivo?
Eu entendo que tudo começa pela conscientização e pela compreensão do que significa isso. Entender a formação da nossa sociedade e todo o histórico envolvido. E a partir dessa compreensão da perspectiva de privilégio racial dentro de todas as nossas relações, inclusive na celebração de qualquer negócio imobiliário, que esse setor, as empresas e os profissionais envolvidos tenham esse olhar para essa dinâmica, que por vezes acaba prejudicando e não trazendo um exercício do seu direito de adquirir, locar e realizar negócios. E também de ter uma ocupação da cidade que traga mais benefícios para a população negra em geral.
Nós temos no Estado de São Paulo uma legislação atrelada a parte de discriminação, que abarca essa indicação de uma discriminação envolvendo alguma atividade relacionada à aquisição ou ocupação de imóveis. Precisamos trazer esse conhecimento para os profissionais para a compreensão dessa realidade, que muitas vezes não é de conhecimento de todos. Além de trazer isso para o dia a dia de profissionais e empresas.
E nesse contexto, do que se trata, como identificar e endereçar o racismo imobiliário no contexto condominial?
Isso acontece quando nós estamos em um contexto que se atrela a pessoa negra em uma condição socioeconômica inferior, onde ela não estaria apta a ocupar aquele condomínio. Comumente, esse racismo imobiliário está atrelado a manifestações que não identificam aquela pessoa como possível integrante do condomínio. E isso pode chegar a um contexto envolvendo o uso de elevadores, direcionando a pessoa para a utilização dos elevadores de serviço, por exemplo.
O racismo imobiliário tem, no contexto condominial, essas manifestações. Algumas vezes podem ser manifestações sutis, mas estão inseridas nesse contexto de não integração da pessoa naquele ambiente.
E tudo isso é explicado pelo fato da nossa formação social ser baseada nesse contexto histórico, de entender que havia uma hierarquia, uma superioridade de um grupo social. Isso foi se transformando ao longo do tempo, mas está intrínseco no nosso pensamento social e há toda essa identificação quando se trata de pessoas negras.
E a cidade é o reflexo da sociedade. A gente precisa trazer a conscientização para dentro do setor imobiliário, das empresas e profissionais.
Elisa Tawil é LinkedIn Top Voices e TEDxSpeaker. Mentora, consultora estratégica de negócios, podcaster pelo Vieses Femininos. Idealizadora e fundadora do movimento Mulheres do Imobiliário. Colunista na revista HSM, no Imobi Report e na EXAME Invest. Head de Growth e Onboarding Specialist na eXp Realty Brasil.
Leia mais: Cidades inteligentes formam novo desejo de moradia
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