Presença inédita em Ribeirão Preto, o escritor moçambicano Mia Couto conversou com a imprensa antes de sua conferência da 22ª FIL
Pela 3ª vez, o escritor moçambicano Mia Couto honra a FIL (Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto) com a sua participação, além de também já ter sido o homenageado. Contudo, entre pandemia e circunstâncias adversas, é somente agora, nessa 22ª edição que acontece até 20 de agosto de 2023, que o autor veio presencialmente à cidade, onde participará de uma conferência nesta quarta-feira, 16 de agosto, e de duas sessões de autógrafos no dia seguinte (confira aqui a programação completa da 22ª FIL).
Mostrando real interesse pelo evento, ao qual oferece valiosas contribuições por meio de suas obras e pensamento crítico, Mia conversou mais cedo com a imprensa, logo depois de dar um passeio pelos estandes das livrarias participantes da Feira, circulando entre as centenas de alunos que tomavam conta dos espaços da Praça XV de novembro. “Sempre que venho ao Brasil, é como se fosse uma espécie de agradecimento que venho prestar a uma entidade, a quem chamamos de Brasil. Os brasileiros são uma espécie de abraço. Aqui, sinto-me sempre em casa, em família”, revelou já no auditório Meira Junior, dentro do Theatro Pedro II.
Lá, o também biólogo e jornalista respondeu a várias perguntas, inclusive do Mundo Zumm, que buscou entender, direto da fonte, sobre como a diversidade da língua portuguesa e suas diferenças entre os falantes – ela é idioma oficial em mais de 10 países – influenciaram a escrita de seus mais de 30 livros, entre prosas e poesias.
“Eu nasci em um país [Moçambique] em que a maior parte da população não fala português ou tem o português como a 2ª língua. E, quando isso acontece, as pessoas re-moldam essa língua sem ter vergonha. Elas falam o português da maneira que querem. Isso me encorajou muito, ao escrever, a abrir portas às várias oralidades que existem em Moçambique, desarrumando aquilo que era minha maneira de saber e de entender a língua”, explicou.
De acordo com o autor de “Terra Sonâmbula”, considerado um dos 12 melhores livros africanos do século XX, reconhecer as diversas formas de falar foi sua primeira inspiração para não ter uma relação obediente com o padrão de língua portuguesa que vinha de Portugal. “Depois, o Brasil também me ajudou muito, por meio das obras de grandes poetas, como Guimarães Rosa, que me fizeram pensar que existia ali uma autorização para transgredir e subverter aquilo que era a língua. Mas eu acho que, em todos nós, há essa potência de marcar nossa própria individualidade em cima da língua”.
Nesse sentido, Mia, que é também biólogo, apontou como toda criança, no início, fala o que pensa que tem que falar, como se algo genético a fizesse absorver algumas normas, para, logo em seguida, introduzir a sua própria individualidade. Contudo, avaliou que neste momento surge o problema: “Normalmente, começa aí uma coisa que estraga tudo: que é o pai, a mãe e as escolas ditando como ela tem que falar”.
Ainda da perspectiva da língua, o escritor revelou que, assim como existem diversas oralidades, as mensagens que busca transmitir em suas obras não necessariamente são compreendidas ou absorvidas da mesma maneiras pelos diferentes. “Em primeiro lugar, é importante saber que a língua não é só o que eu digo, só a linguagem. Por exemplo: Se eu disser, em Moçambique, que fui uma árvore durante a noite, ninguém acha isso estranho, não tem nada de fantástico. No Brasil, já há um estranhamento. Se for na Europa, o português europeu acha que é uma figura de linguagem, uma liberdade de imaginação”.
Independentemente do português e do país, Mia já recebeu uma série de prêmios literários, entre eles o Camões (2013) e o Neustadt International Prize (2014), além de ser indicado para o Man Booker International Prize (2015).
Na edição especial para leitores brasileiros de “As pequenas doenças da eternidade”, que está sendo lançado durante a Feira Internacional do Livro, Mia Couto traz histórias que tratam de grandes males que assombram a sociedade, dos tempos mais remotos aos dias atuais.
Ao Mundo Zumm, Mia Couto revela relação ‘subversiva’ com a língua portuguesa
Presença inédita em Ribeirão Preto, o escritor moçambicano Mia Couto conversou com a imprensa antes de sua conferência da 22ª FIL
Pela 3ª vez, o escritor moçambicano Mia Couto honra a FIL (Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto) com a sua participação, além de também já ter sido o homenageado. Contudo, entre pandemia e circunstâncias adversas, é somente agora, nessa 22ª edição que acontece até 20 de agosto de 2023, que o autor veio presencialmente à cidade, onde participará de uma conferência nesta quarta-feira, 16 de agosto, e de duas sessões de autógrafos no dia seguinte (confira aqui a programação completa da 22ª FIL).
Mostrando real interesse pelo evento, ao qual oferece valiosas contribuições por meio de suas obras e pensamento crítico, Mia conversou mais cedo com a imprensa, logo depois de dar um passeio pelos estandes das livrarias participantes da Feira, circulando entre as centenas de alunos que tomavam conta dos espaços da Praça XV de novembro. “Sempre que venho ao Brasil, é como se fosse uma espécie de agradecimento que venho prestar a uma entidade, a quem chamamos de Brasil. Os brasileiros são uma espécie de abraço. Aqui, sinto-me sempre em casa, em família”, revelou já no auditório Meira Junior, dentro do Theatro Pedro II.
Lá, o também biólogo e jornalista respondeu a várias perguntas, inclusive do Mundo Zumm, que buscou entender, direto da fonte, sobre como a diversidade da língua portuguesa e suas diferenças entre os falantes – ela é idioma oficial em mais de 10 países – influenciaram a escrita de seus mais de 30 livros, entre prosas e poesias.
“Eu nasci em um país [Moçambique] em que a maior parte da população não fala português ou tem o português como a 2ª língua. E, quando isso acontece, as pessoas re-moldam essa língua sem ter vergonha. Elas falam o português da maneira que querem. Isso me encorajou muito, ao escrever, a abrir portas às várias oralidades que existem em Moçambique, desarrumando aquilo que era minha maneira de saber e de entender a língua”, explicou.
De acordo com o autor de “Terra Sonâmbula”, considerado um dos 12 melhores livros africanos do século XX, reconhecer as diversas formas de falar foi sua primeira inspiração para não ter uma relação obediente com o padrão de língua portuguesa que vinha de Portugal. “Depois, o Brasil também me ajudou muito, por meio das obras de grandes poetas, como Guimarães Rosa, que me fizeram pensar que existia ali uma autorização para transgredir e subverter aquilo que era a língua. Mas eu acho que, em todos nós, há essa potência de marcar nossa própria individualidade em cima da língua”.
Nesse sentido, Mia, que é também biólogo, apontou como toda criança, no início, fala o que pensa que tem que falar, como se algo genético a fizesse absorver algumas normas, para, logo em seguida, introduzir a sua própria individualidade. Contudo, avaliou que neste momento surge o problema: “Normalmente, começa aí uma coisa que estraga tudo: que é o pai, a mãe e as escolas ditando como ela tem que falar”.
Ainda da perspectiva da língua, o escritor revelou que, assim como existem diversas oralidades, as mensagens que busca transmitir em suas obras não necessariamente são compreendidas ou absorvidas da mesma maneiras pelos diferentes. “Em primeiro lugar, é importante saber que a língua não é só o que eu digo, só a linguagem. Por exemplo: Se eu disser, em Moçambique, que fui uma árvore durante a noite, ninguém acha isso estranho, não tem nada de fantástico. No Brasil, já há um estranhamento. Se for na Europa, o português europeu acha que é uma figura de linguagem, uma liberdade de imaginação”.
Independentemente do português e do país, Mia já recebeu uma série de prêmios literários, entre eles o Camões (2013) e o Neustadt International Prize (2014), além de ser indicado para o Man Booker International Prize (2015).
Na edição especial para leitores brasileiros de “As pequenas doenças da eternidade”, que está sendo lançado durante a Feira Internacional do Livro, Mia Couto traz histórias que tratam de grandes males que assombram a sociedade, dos tempos mais remotos aos dias atuais.
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