Estudos apontam que a morte de um cônjuge pode afetar a saúde de maneira física – além de psicológica -, provocando um síndrome conhecida como “coração partido”
Experiências universais, a perda e o luto nunca são situações fáceis de lidar; quando decorrem da morte de um parceiro, podem ser ainda mais graves, desencadeando quadros prejudiciais à saúde, como distúrbios do sono, episódios depressivos, ansiedade, diminuição da função imunológica e até mesmo um declínio significativo na saúde física. Esse panorama é comum e recebe o nome de “efeito viuvez” ou “síndrome do coração partido”.
De acordo com Maria Julia Kovács, professora sênior do Instituto de Psicologia da USP e membro fundadora do Laboratório de Estudo sobre a Morte, esse quadro acontece quando a perda de uma pessoa é vivida de uma forma tão intensa e dolorosa que acaba levando à morte do enlutado. Trata-se de uma condição médica documentada, conhecida como “cardiomiopatia induzida por estresse”, que ocorre quando o coração fica atordoado por um estresse agudo repentino e seu ventrículo esquerdo enfraquece. Ele foi documentado em todas as idades e raças ao redor do mundo.
Uma pesquisa realizada no Laboratório da Natureza Humana na Universidade de Yale apontou que o risco de um idoso morrer por qualquer causa aumenta entre 30% e 90% nos primeiros três meses após a morte do cônjuge e cai para cerca de 15% nos meses seguintes. “É importante a gente considerar que, mesmo que a pessoa não queira mais viver, não quer dizer que obrigatoriamente ela vai ter um processo de adoecimento direto ou vai cometer o suicídio”. Além disso, na maioria dos casos, quando o estresse emocional agudo se dissipa, o coração se recupera e volta à sua forma normal.
Terceira idade é a mais afetada
O estudo ainda revelou que, quando um parceiro morreu de forma súbita, o risco de morte do cônjuge sobrevivente aumentou. O mesmo acontecia com doenças crônicas como diabete, doença pulmonar obstrutiva crônica e câncer de pulmão ou cólon, que exigiam tratamento cuidadoso do paciente para tratar ou prevenir. No entanto, se um cônjuge morreu de doença de Alzheimer ou Parkinson, não houve impacto na saúde do parceiro sobrevivente – possivelmente porque o cônjuge teve tempo adequado para se preparar para a perda do parceiro.
Maria Julia Kovács ainda explica que casais da terceira idade e os viúvos homens são os mais propensos a sofrerem dessa síndrome, uma vez que as pessoas mais idosas vivem muito tempo juntas e muitas vezes não conseguem conceber uma vida sem a pessoa querida, e os homens dificilmente vão expressar seus sentimentos.
Mas a especialista ressalta que cada caso é distinto e que não se pode generalizar. “Quando, por exemplo, a pessoa é muito idosa ou já tem um processo de adoecimento, ou alguma condição que requer atenção psicológica ou psiquiátrica, que dificulta o processo de elaboração do luto, pode ser que ela seja mais propensa à síndrome do coração partido em um período curto de tempo; outras pessoas têm um processo de luto mais longo, que pode ser chamado de complicado, porque o sofrimento é muito grande e a capacidade e a vontade de viver nesse mundo sem a pessoa querida é tão penosa que o luto se arrasta por anos”.
Sinais do coração partido
A especialista ressalta que é sempre importante ficar atento aos sinais da síndrome para que, se necessário, seja feita a intervenção e a busca por ajuda. “Os cônjuges sobreviventes podem sofrer de distúrbios do sono, episódios depressivos, ansiedade, função imunológica prejudicada e saúde física geral precária”. Diante disso, ela enfatiza a necessidade de um acompanhamento próximo ao parceiro sobrevivente. “O luto é um ato de coragem e força. Quanto mais significativa a perda, mais profunda ela é e mais longo é o processo de recuperação. Procure ajuda se necessário”, conclui.
*Com informações de Julia Valeri, publicada no Jornal da USP
Coração partido é uma ameaça real à saúde que pode levar à morte
Estudos apontam que a morte de um cônjuge pode afetar a saúde de maneira física – além de psicológica -, provocando um síndrome conhecida como “coração partido”
Experiências universais, a perda e o luto nunca são situações fáceis de lidar; quando decorrem da morte de um parceiro, podem ser ainda mais graves, desencadeando quadros prejudiciais à saúde, como distúrbios do sono, episódios depressivos, ansiedade, diminuição da função imunológica e até mesmo um declínio significativo na saúde física. Esse panorama é comum e recebe o nome de “efeito viuvez” ou “síndrome do coração partido”.
De acordo com Maria Julia Kovács, professora sênior do Instituto de Psicologia da USP e membro fundadora do Laboratório de Estudo sobre a Morte, esse quadro acontece quando a perda de uma pessoa é vivida de uma forma tão intensa e dolorosa que acaba levando à morte do enlutado. Trata-se de uma condição médica documentada, conhecida como “cardiomiopatia induzida por estresse”, que ocorre quando o coração fica atordoado por um estresse agudo repentino e seu ventrículo esquerdo enfraquece. Ele foi documentado em todas as idades e raças ao redor do mundo.
Uma pesquisa realizada no Laboratório da Natureza Humana na Universidade de Yale apontou que o risco de um idoso morrer por qualquer causa aumenta entre 30% e 90% nos primeiros três meses após a morte do cônjuge e cai para cerca de 15% nos meses seguintes. “É importante a gente considerar que, mesmo que a pessoa não queira mais viver, não quer dizer que obrigatoriamente ela vai ter um processo de adoecimento direto ou vai cometer o suicídio”. Além disso, na maioria dos casos, quando o estresse emocional agudo se dissipa, o coração se recupera e volta à sua forma normal.
Terceira idade é a mais afetada
O estudo ainda revelou que, quando um parceiro morreu de forma súbita, o risco de morte do cônjuge sobrevivente aumentou. O mesmo acontecia com doenças crônicas como diabete, doença pulmonar obstrutiva crônica e câncer de pulmão ou cólon, que exigiam tratamento cuidadoso do paciente para tratar ou prevenir. No entanto, se um cônjuge morreu de doença de Alzheimer ou Parkinson, não houve impacto na saúde do parceiro sobrevivente – possivelmente porque o cônjuge teve tempo adequado para se preparar para a perda do parceiro.
Maria Julia Kovács ainda explica que casais da terceira idade e os viúvos homens são os mais propensos a sofrerem dessa síndrome, uma vez que as pessoas mais idosas vivem muito tempo juntas e muitas vezes não conseguem conceber uma vida sem a pessoa querida, e os homens dificilmente vão expressar seus sentimentos.
Mas a especialista ressalta que cada caso é distinto e que não se pode generalizar. “Quando, por exemplo, a pessoa é muito idosa ou já tem um processo de adoecimento, ou alguma condição que requer atenção psicológica ou psiquiátrica, que dificulta o processo de elaboração do luto, pode ser que ela seja mais propensa à síndrome do coração partido em um período curto de tempo; outras pessoas têm um processo de luto mais longo, que pode ser chamado de complicado, porque o sofrimento é muito grande e a capacidade e a vontade de viver nesse mundo sem a pessoa querida é tão penosa que o luto se arrasta por anos”.
Sinais do coração partido
A especialista ressalta que é sempre importante ficar atento aos sinais da síndrome para que, se necessário, seja feita a intervenção e a busca por ajuda. “Os cônjuges sobreviventes podem sofrer de distúrbios do sono, episódios depressivos, ansiedade, função imunológica prejudicada e saúde física geral precária”. Diante disso, ela enfatiza a necessidade de um acompanhamento próximo ao parceiro sobrevivente. “O luto é um ato de coragem e força. Quanto mais significativa a perda, mais profunda ela é e mais longo é o processo de recuperação. Procure ajuda se necessário”, conclui.
*Com informações de Julia Valeri, publicada no Jornal da USP
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