Após a retirada do exército dos EUA, o grupo Talibã retomou o poder no Afeganistão e, agora, milhares de cidadãos buscam formas de sair do país
No domingo, 15 de agosto, o grupo fundamentalista Talibã cercou o palácio presidencial de Cabul, capital do Afeganistão, e assumiu o governo do país. A transferência de poder foi consolidada com a saída do então presidente Ashraf Ghani, que não ofereceu resistência. Sendo assim, o grupo islâmico considerou a tomada de poder pacífica, já que não houve derramamento de sangue.
As imagens de cidadãos afegãos se escondendo ou tentando, desesperadamente, fugir do país estão chocando o mundo. Para entender um pouco mais sobre a situação, conversamos com a doutora em Ciência Política Camilla Silva Geraldello, professora de Relações Internacionais do Centro Universitário Moura Lacerda. Ela explica a seguir o que está acontecendo no Afeganistão:
O que é o Talibã?
De acordo com a professora, o Talibã é um grupo fundamentalista islâmico que surgiu nos anos 1990 no Afeganistão, no contexto da resistência à tentativa de invasão soviética do país. “Esse grupo prega uma leitura extremista das leis islâmicas, o que inclui uma rejeição a tudo que é ocidental, como ouvir músicas, assistir TV e a participação de mulheres no espaço público”. Ou seja, para eles, as mulheres devem permanecer a maior parte do tempo dentro de casa e não mostrar o rosto ou qualquer outra parte do corpo.
Tais interpretações para como a leis islâmicas devem ser aplicadas foram postas em prática quando o grupo governou o Afeganistão entre 1996 e 2001 – governo que foi encerrado com a invasão dos Estados Unidos após os atentados de 11 de setembro de 2001.
Estratégia e volta ao poder
“É difícil afirmar com exatidão a estratégia do Talibã nessa retomada do poder. Mas para que o grupo consiga ter reconhecimento internacional e possa manter relações com os diversos países e organizações intergovernamentais é necessário que ele não haja de forma extremista, como foi no final dos anos 1990”, explica Camilla .
Por causa disso, acredita-se que o grupo não retomará as práticas extremistas no tocante à aplicação das leis islâmicas nem dê suporte a grupos terroristas. Inclusive, as próprias lideranças do Talibã vêm afirmando que serão moderados. “De certo modo, a participação do grupo nas negociações para a retirada das tropas estadunidenses vai na direção dessa moderação. Assim como o reconhecimento do governo talibã por parte de países relevantes, como a China, pode forçar a ocorrência desta moderação”, avalia a professora.
Entretanto o que vem ocorrendo ao longo dos últimos meses aponta na direção contrária. No processo de avanço e conquista das províncias afegãs, o que ocorreu foram violações nos direitos das mulheres, principalmente (como casamentos forçados, abandono escolar), mostrando que a moderação talvez esteja só nos discursos das lideranças e não nas práticas dos membros do grupo.
Situação sócio-política
A professora Camilla Silva Geraldello define que, econômica e politicamente, o Afeganistão “é o que chamamos de ‘Estado falido/frágil’, que é aquele cujas estruturas políticas, econômicas, sociais e de segurança não existem total ou parcialmente devido a conflitos domésticos ou internacionais, o que permite a grupos não estatais oferecerem tais estruturas”.
Mesmo antes da retomada do poder pelo Talibã, o país do Oriente Médio já apresentava índices econômicos ruins (estando entre os 15 países mais pobres do mundo). Nesse sentido, economicamente o país não era expressivo e assim tende a continuar – a menos que o reconhecimento internacional do novo governo traga oportunidades de superar os problemas econômicos afegãos.
“É importante destacar a precariedade do país como um todo: índice de analfabetismo alto, pobreza generalizada e uma economia bastante debilitada. Esses fatores nos ajudam a entender como o exército afegão sucumbiu tão rapidamente, pois, com o avanço Talibã e a retirada das tropas estadunidenses, muitos soldados preferiram render-se ou desertar a lutar uma guerra perdida”, conclui a doutora em Ciências Políticas.
O que está acontecendo no Afeganistão?
Após a retirada do exército dos EUA, o grupo Talibã retomou o poder no Afeganistão e, agora, milhares de cidadãos buscam formas de sair do país
No domingo, 15 de agosto, o grupo fundamentalista Talibã cercou o palácio presidencial de Cabul, capital do Afeganistão, e assumiu o governo do país. A transferência de poder foi consolidada com a saída do então presidente Ashraf Ghani, que não ofereceu resistência. Sendo assim, o grupo islâmico considerou a tomada de poder pacífica, já que não houve derramamento de sangue.
As imagens de cidadãos afegãos se escondendo ou tentando, desesperadamente, fugir do país estão chocando o mundo. Para entender um pouco mais sobre a situação, conversamos com a doutora em Ciência Política Camilla Silva Geraldello, professora de Relações Internacionais do Centro Universitário Moura Lacerda. Ela explica a seguir o que está acontecendo no Afeganistão:
O que é o Talibã?
De acordo com a professora, o Talibã é um grupo fundamentalista islâmico que surgiu nos anos 1990 no Afeganistão, no contexto da resistência à tentativa de invasão soviética do país. “Esse grupo prega uma leitura extremista das leis islâmicas, o que inclui uma rejeição a tudo que é ocidental, como ouvir músicas, assistir TV e a participação de mulheres no espaço público”. Ou seja, para eles, as mulheres devem permanecer a maior parte do tempo dentro de casa e não mostrar o rosto ou qualquer outra parte do corpo.
Tais interpretações para como a leis islâmicas devem ser aplicadas foram postas em prática quando o grupo governou o Afeganistão entre 1996 e 2001 – governo que foi encerrado com a invasão dos Estados Unidos após os atentados de 11 de setembro de 2001.
Estratégia e volta ao poder
“É difícil afirmar com exatidão a estratégia do Talibã nessa retomada do poder. Mas para que o grupo consiga ter reconhecimento internacional e possa manter relações com os diversos países e organizações intergovernamentais é necessário que ele não haja de forma extremista, como foi no final dos anos 1990”, explica Camilla .
Por causa disso, acredita-se que o grupo não retomará as práticas extremistas no tocante à aplicação das leis islâmicas nem dê suporte a grupos terroristas. Inclusive, as próprias lideranças do Talibã vêm afirmando que serão moderados. “De certo modo, a participação do grupo nas negociações para a retirada das tropas estadunidenses vai na direção dessa moderação. Assim como o reconhecimento do governo talibã por parte de países relevantes, como a China, pode forçar a ocorrência desta moderação”, avalia a professora.
Entretanto o que vem ocorrendo ao longo dos últimos meses aponta na direção contrária. No processo de avanço e conquista das províncias afegãs, o que ocorreu foram violações nos direitos das mulheres, principalmente (como casamentos forçados, abandono escolar), mostrando que a moderação talvez esteja só nos discursos das lideranças e não nas práticas dos membros do grupo.
Situação sócio-política
A professora Camilla Silva Geraldello define que, econômica e politicamente, o Afeganistão “é o que chamamos de ‘Estado falido/frágil’, que é aquele cujas estruturas políticas, econômicas, sociais e de segurança não existem total ou parcialmente devido a conflitos domésticos ou internacionais, o que permite a grupos não estatais oferecerem tais estruturas”.
Mesmo antes da retomada do poder pelo Talibã, o país do Oriente Médio já apresentava índices econômicos ruins (estando entre os 15 países mais pobres do mundo). Nesse sentido, economicamente o país não era expressivo e assim tende a continuar – a menos que o reconhecimento internacional do novo governo traga oportunidades de superar os problemas econômicos afegãos.
“É importante destacar a precariedade do país como um todo: índice de analfabetismo alto, pobreza generalizada e uma economia bastante debilitada. Esses fatores nos ajudam a entender como o exército afegão sucumbiu tão rapidamente, pois, com o avanço Talibã e a retirada das tropas estadunidenses, muitos soldados preferiram render-se ou desertar a lutar uma guerra perdida”, conclui a doutora em Ciências Políticas.
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