Persistir é bom, mas saber parar também faz parte

À frente do restaurante fast casual Spicy Tuna, Giovanni Bruno me mostra como a resiliência está tanto nas estratégias, quanto no autocontrole

Quando conheci a história do Giovanni Bruno, fundador da franquia Spicy Tuna, vi de perto o que significa acreditar até o fim no próprio negócio. Ele nunca pensou em desistir, mas percebeu, na prática, como essa mesma teimosia podia também se transformar em armadilha.

“Empreendedor é como um viciado em jogo. Só que a nossa aposta é a empresa. Continuamos colocando fichas mesmo quando os sinais mostram que talvez seja hora de parar”, avalia, após ter descoberto isso do jeito mais difícil.

Amigos, amigos; negócios à parte

Na época, a situação era: a matriz já não sustentava os custos da franqueadora, que passavam dos R$ 30 mil por mês; quase todo o time era terceirizado, da consultoria financeira e do jurídico até o marketing e a assessoria, entre outros. E, pior, eram pessoas próximas, amigos, que estavam com ele desde o início e defendiam a marca como donos.

Tomar a decisão de desligar cada um deles foi doloroso. Contudo, foi ali que Giovanni aprendeu algo que carrega até hoje: algumas funções não podem ser totalmente terceirizadas; o dono precisa conhecer os números, os processos e o coração do negócio.

Foi nesse momento, em que parecia o fim, que ele ativou o que chama de “modo quatro vezes”. Com planilhas simples, acompanhamento direto e muito trabalho, reorganizou a casa e criou a base para voltar a crescer.

Errar, aprender e seguir

E o Giovanni admite: já errou ao delegar demais. Áreas como financeiro e comercial não podem ficar distantes do dono. Ele precisa ter os números claros, porque decisões rápidas fazem diferença entre manter o negócio aberto ou fechar as portas.

O empresário também se desfez da ilusão comum de atingir estabilidade. “No empreendedorismo, não existe equilíbrio permanente. Ou você está crescendo, ou está encolhendo. E, muitas vezes, os dois acontecem no mesmo dia”.

Resiliência, para ele, não está só em estratégias, mas em autocontrole. Tanto que me contou que recentemente ouviu algo totalmente fora de lugar e a vontade foi reagir com dureza. Mas respirou fundo e tratou a situação com calma. “Ali eu fui faixa preta”, brincou depois. Essa serenidade, mais que qualquer planilha, mantém o time unido.

Inovar sem complicar

Essa forma de pensar está no coração do Spicy Tuna, um restaurante fast casual de culinária havaiana, que respeita as receitas originais, trabalha com peixe fresco e entrega autenticidade no prato. A marca trouxe para Ribeirão Preto a experiência de comer como se estivéssemos em ilhas havaianas.

Esse tipo de inovação que muita gente acredita ser uma grande invenção. Mas, para Giovanni, ela acontece no detalhe. Foi assim quando trouxe novas combinações de frutas e legumes para os pokes, mudanças que pareciam um ajuste pequeno, mas deram um frescor ao cardápio e chamou atenção dos clientes.

Esse olhar rápido, de testar e ajustar sem esperar condições perfeitas, vem da mentalidade de startup que ele cultiva. E foi isso que também manteve o Spicy Tuna de pé mesmo nos piores momentos.

Outra virada importante foi sair da capital e apostar no interior. Uma escolha arriscada, mas que trouxe mais qualidade de vida, custos controlados e potencial real de expansão.

No fim, essa história me ensinou que empreender não é corrida de 100 metros; é maratona. Persistir sem medida pode levar ao fundo do poço, enquanto desistir cedo demais pode roubar boas oportunidades. O segredo está em reconhecer o ponto de equilíbrio, o qual Giovanni mostra ser possível, com frescor, coragem e disciplina diárias.

* Miguel El Debs, sócio do Grupo ZK, conselheiro estratégico de empresas de pequeno e médio porte e head do LIDE Empreendedor | Ribeirão Preto – contato@grupozumm.com.br