Giovani Sakata se prepara para representar o karatê brasileiro na competição esportiva, mas faz questão de esclarecer: “antes de ser atleta, sou um lutador marcial“
“Uma vez me chamaram de fênix, por causa das minhas voltas, dos meus renascimentos. Infelizmente, sou um cara que cresce na dor”, revela o carateca Giovani Sakata, que há 35 anos coleciona lutas dentro e fora dos tatames e está prestes a enfrentar mais algumas, dessa vez em nome do Brasil.
Aos 51 anos, o lutador ribeirão-pretano participará do Pan-Americano 2023, em Santiago, no Chile, sendo uma chance que atribui ao acaso. “A oportunidade surgiu ano passado, durante o Campeonato Brasileiro, devido à minha classificação, que me deu a vaga para representar a Seleção Brasileira da JKS, que é uma organização do Japão”, explica.
No dia 16 de agosto Sakata embarca para competir em três categorias: sênior, até 84kg; Master, a partir de 35 anos; e em equipes – esta última, uma de suas favoritas. “É muito legal porque não tem peso, nem idade. Inclusive, nessa categoria, já fui campeão brasileiro com a JKS esse ano. O mais novo da equipe tinha 19 anos e a maioria estava na casa dos 20. Só eu com 51. Lutar em equipe é uma dinâmica diferente e a minha experiência ajuda”, avalia, colocando-se como um lutador “coringa”.
Essa, contudo, não será sua 1ª vez em um Pan-Americano. Pelo contrário, já faz parte da sua conta de vitórias, junto com mais de 15 títulos nacionais; 30 estaduais; e outros 50, entre jogos regionais e abertos. Fora de nossas fronteiras, ele também é campeão mundial de Karate Hayashi Ha Shito Ryu e medalhista mundial WSKA no estilo Shotokan. “É uma trajetória de 35 anos nos quais já estou na luta, literalmente”.
Lutador antes de atleta
Dividido entre as funções de empresário, técnico, palestrante, pai e atleta, Sakata também treina diariamente, por cerca de duas horas. São treinos de técnica e de musculação, acompanhados e com o apoio de vários profissionais parceiros (de fisioterapeuta a patrocinadores), mas focados no Karate enquanto arte marcial, algo que ele traz muito forte consigo, desde seu início nos tatames, em 1988.
“A luta tem uma porcentagem que é competição, mas ela é muito além disso. É um trabalho psicológico de concentração, de estratégia. Quando você entra em uma arte marcial, você entra em um novo mundo. É diferente. Meu grande mestre, Takashi Shimo, foi quem me deu os recursos para ser marcial e também competitivo. Graças a ele, eu consigo fazer os dois, apesar de serem mundos completamente diferentes. Mas primeiro sou marcial, depois competitivo. Porque a marcialidade é maior”, afirma.
É por causa dessa mentalidade – com a qual entende que é possível transformar um marcial em um atleta, mas não o contrário – que Sakata se vê como um guerreiro que também compete e a razão, segundo ele, de continuar batalhando.
“Eu nunca fui e continuo não me considerando um atleta. Acho que sou mais um guerreiro, alguém que coloca o coração no que faz. Temos que ter a cabeça muito boa para perceber que, às vezes, lutamos com regras e, às vezes, sem regras. Conseguir ter esse controle é o que me permite ser ambos. E eu acredito que só sigo até hoje justamente por ser um lutador. Da minha geração, sou praticamente o último que ainda compete”, pontua, meses antes de embarcar para o Pan-Americano.
Renascimento do competidor
Para Sakata, o Karate é uma paixão ainda ardente; quando luta, é quando mais se sente vivo. Por isso mesmo, o fim da sua carreira como lutador esportivo nunca aconteceu, ainda que ele tenha tentado – mais de uma vez.
A primeira foi em 2010, quando uma lesão o deixou sem competir. Contudo, em menos de dois anos, ele já estava de volta, surpreendendo toda e qualquer expectativa. “Em 2012, fiz o meu retorno, já me consagrando como campeão paulista e brasileiro. Foi um ano em que ninguém esperava que eu tivesse tantos resultados positivos, nem eu mesmo”, lembra.
No ano seguinte, competiu no mundial na Inglaterra e, após conquistar a vitória, considerou aquele seu encerramento profissional. Até que, cinco anos depois, retornou mais uma vez, como forma de atender aos pedidos na filha. Na época, com 8 anos, ela que queria ver o pai lutar.
“Eu comecei perdendo, porque não é fácil – tanto tempo parado, ser alguém reconhecido no meio, enfrentar atletas bem preparados…, mas, no fim da competição, que era uma regional, consegui reverter. E dali para frente eu comecei uma nova jornada: lutar por prazer e para sentir que estou vivo”, destaca.
Pan-Americano 2023: o fim?
Desde que fez esse “último retorno”, Sakata se consagrou campeão brasileiro em 2019, lutou o Mundial em Portugal no mesmo ano e também disputou a seletiva do pré-olímpico para Tóquio. “Ou seja, por um momento, achei que tinha encerrado, mas ainda vivi muitas emoções. E continuo vivendo”, ele mesmo define.
Questionado sobre se cogita parar ou quando vai parar, Sakata responde que, no momento, não tem planos – exceto o de estar bem preparado para o Pan-Americano. Até porque, se ganhar lá, ele consegue uma vaga para o Campeonato Mundial no Japão, em 2024, o que teria um forte significado para ele.
“Lá foi onde disputei meu 1º torneio internacional. Em Osaka. Ano que vem, será em Tóquio. Então, imagina encerrar uma carreira de quase 40 anos, estando com praticamente 52, onde tudo começou? Mas, ao mesmo tempo, não estou focado nisso. Estou vivendo o momento”, pondera, exibindo a serenidade de quem entende os valores de nunca desistir.
Aos 51 anos, carateca de Ribeirão Preto luta pelo ouro no Pan-Americano 2023
Giovani Sakata se prepara para representar o karatê brasileiro na competição esportiva, mas faz questão de esclarecer: “antes de ser atleta, sou um lutador marcial“
“Uma vez me chamaram de fênix, por causa das minhas voltas, dos meus renascimentos. Infelizmente, sou um cara que cresce na dor”, revela o carateca Giovani Sakata, que há 35 anos coleciona lutas dentro e fora dos tatames e está prestes a enfrentar mais algumas, dessa vez em nome do Brasil.
Aos 51 anos, o lutador ribeirão-pretano participará do Pan-Americano 2023, em Santiago, no Chile, sendo uma chance que atribui ao acaso. “A oportunidade surgiu ano passado, durante o Campeonato Brasileiro, devido à minha classificação, que me deu a vaga para representar a Seleção Brasileira da JKS, que é uma organização do Japão”, explica.
No dia 16 de agosto Sakata embarca para competir em três categorias: sênior, até 84kg; Master, a partir de 35 anos; e em equipes – esta última, uma de suas favoritas. “É muito legal porque não tem peso, nem idade. Inclusive, nessa categoria, já fui campeão brasileiro com a JKS esse ano. O mais novo da equipe tinha 19 anos e a maioria estava na casa dos 20. Só eu com 51. Lutar em equipe é uma dinâmica diferente e a minha experiência ajuda”, avalia, colocando-se como um lutador “coringa”.
Essa, contudo, não será sua 1ª vez em um Pan-Americano. Pelo contrário, já faz parte da sua conta de vitórias, junto com mais de 15 títulos nacionais; 30 estaduais; e outros 50, entre jogos regionais e abertos. Fora de nossas fronteiras, ele também é campeão mundial de Karate Hayashi Ha Shito Ryu e medalhista mundial WSKA no estilo Shotokan. “É uma trajetória de 35 anos nos quais já estou na luta, literalmente”.
Lutador antes de atleta
Dividido entre as funções de empresário, técnico, palestrante, pai e atleta, Sakata também treina diariamente, por cerca de duas horas. São treinos de técnica e de musculação, acompanhados e com o apoio de vários profissionais parceiros (de fisioterapeuta a patrocinadores), mas focados no Karate enquanto arte marcial, algo que ele traz muito forte consigo, desde seu início nos tatames, em 1988.
“A luta tem uma porcentagem que é competição, mas ela é muito além disso. É um trabalho psicológico de concentração, de estratégia. Quando você entra em uma arte marcial, você entra em um novo mundo. É diferente. Meu grande mestre, Takashi Shimo, foi quem me deu os recursos para ser marcial e também competitivo. Graças a ele, eu consigo fazer os dois, apesar de serem mundos completamente diferentes. Mas primeiro sou marcial, depois competitivo. Porque a marcialidade é maior”, afirma.
É por causa dessa mentalidade – com a qual entende que é possível transformar um marcial em um atleta, mas não o contrário – que Sakata se vê como um guerreiro que também compete e a razão, segundo ele, de continuar batalhando.
“Eu nunca fui e continuo não me considerando um atleta. Acho que sou mais um guerreiro, alguém que coloca o coração no que faz. Temos que ter a cabeça muito boa para perceber que, às vezes, lutamos com regras e, às vezes, sem regras. Conseguir ter esse controle é o que me permite ser ambos. E eu acredito que só sigo até hoje justamente por ser um lutador. Da minha geração, sou praticamente o último que ainda compete”, pontua, meses antes de embarcar para o Pan-Americano.
Renascimento do competidor
Para Sakata, o Karate é uma paixão ainda ardente; quando luta, é quando mais se sente vivo. Por isso mesmo, o fim da sua carreira como lutador esportivo nunca aconteceu, ainda que ele tenha tentado – mais de uma vez.
A primeira foi em 2010, quando uma lesão o deixou sem competir. Contudo, em menos de dois anos, ele já estava de volta, surpreendendo toda e qualquer expectativa. “Em 2012, fiz o meu retorno, já me consagrando como campeão paulista e brasileiro. Foi um ano em que ninguém esperava que eu tivesse tantos resultados positivos, nem eu mesmo”, lembra.
No ano seguinte, competiu no mundial na Inglaterra e, após conquistar a vitória, considerou aquele seu encerramento profissional. Até que, cinco anos depois, retornou mais uma vez, como forma de atender aos pedidos na filha. Na época, com 8 anos, ela que queria ver o pai lutar.
“Eu comecei perdendo, porque não é fácil – tanto tempo parado, ser alguém reconhecido no meio, enfrentar atletas bem preparados…, mas, no fim da competição, que era uma regional, consegui reverter. E dali para frente eu comecei uma nova jornada: lutar por prazer e para sentir que estou vivo”, destaca.
Pan-Americano 2023: o fim?
Desde que fez esse “último retorno”, Sakata se consagrou campeão brasileiro em 2019, lutou o Mundial em Portugal no mesmo ano e também disputou a seletiva do pré-olímpico para Tóquio. “Ou seja, por um momento, achei que tinha encerrado, mas ainda vivi muitas emoções. E continuo vivendo”, ele mesmo define.
Questionado sobre se cogita parar ou quando vai parar, Sakata responde que, no momento, não tem planos – exceto o de estar bem preparado para o Pan-Americano. Até porque, se ganhar lá, ele consegue uma vaga para o Campeonato Mundial no Japão, em 2024, o que teria um forte significado para ele.
“Lá foi onde disputei meu 1º torneio internacional. Em Osaka. Ano que vem, será em Tóquio. Então, imagina encerrar uma carreira de quase 40 anos, estando com praticamente 52, onde tudo começou? Mas, ao mesmo tempo, não estou focado nisso. Estou vivendo o momento”, pondera, exibindo a serenidade de quem entende os valores de nunca desistir.
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