Falar sobre vinhos é, inevitavelmente, falar sobre a Borgonha, berço de alguns dos vinhos mais respeitados do mundo. Com registros de cultivo que remontam ao Império Romano e um sistema de classificação consolidado desde a Idade Média, a região francesa é famosa por seu modelo de vinificação que valoriza ao máximo o conceito de terroir – a influência específica do solo, do clima e da tradição em cada parcela de terra.
Seus vinhos são divididos em quatro níveis: Grand Cru (o ápice da qualidade, representando menos de 2% da produção), Premier Cru (vinhos de altíssimo nível, oriundos de vinhedos classificados dentro das comunas), Village (produzidos em comunas específicas como Meursault, Vosne-Romanée, entre outras) e Régional (vinhos que abrangem toda a região da Borgonha sem delimitação comunal).
Para quem, como eu, tem no Pinot Noir a uva predileta entre os tintos, e no Chardonnay, a escolha entre os brancos, a Borgonha é a verdadeira “meca”, um território onde tradição, precisão e respeito ao solo moldam vinhos que expressam como poucos a identidade de cada lugar.
Nesta viagem, escolhi me hospedar no La Cuverie de Vosne Romanée, propriedade de Jean-Louis Michel Belair, que é o nome à frente do prestigiado Château du Comte Liger-Belair. O local é um dos domínios mais respeitados de Vosne-Romanée, famoso por parcelas excepcionais como La Romanée e Clos du Château. O hotel, que possui apenas quatro suítes, é intimista e pensado para os apreciadores da cultura local. Fiquei na Junior Suite du Général-Comte, que homenageia o fundador do château, e que ainda oferecia uma varanda com vista direta para o vinhedo Clos du Château, uma das joias da propriedade.
Entre as visitas marcantes, destaco a degustação com o negociante Ayme Vadim, que vem se consolidando pela produção de vinhos de alta qualidade em microvinificações. Provei seis cuvées de Grand Crus, ressaltando o Corton-Charlemagne 2017, uma produção limitada a apenas 300 garrafas e que se revelou o ponto alto da degustação.
Hotel La Cuverie de Vosne RomanéeHospices de BeauneEm frente ao restaurante Cedric Burtin
Em Beaune, considerada o centro comercial e cultural da Borgonha, a visita ao Hospices de Beaune é obrigatória. Fundado em 1443, o antigo hospital de caridade é hoje um dos monumentos históricos mais importantes da França e palco do renomado leilão anual de vinhos. Sua arquitetura e sua história estão entre os grandes legados da viticultura borgonhesa.
Na Côte de Beaune, escolhi novamente Meursault como uma das bases para explorar a gastronomia local. A vila, conhecida pelos seus brancos elegantes, abriga duas casas que merecem destaque.
No Restaurante Le Soufflot, além de um menu degustação bem executado, a carta apresenta excelentes oportunidades para quem busca vinhos da região a preços justos. Foi lá que provei um raro Domaine Bizot Marsannay Clos du Roy.
Pratos do restaurante Le Soufflot | Crédito: Arquivo pessoal
Já no Au Fil du Clos, destaco o Soufflé d’époisses, que harmonizei com um Coche-Dury Meursault Les Rougeots, reforçando a precisão que a região imprime aos seus grandes brancos.
Além dos restaurantes, caminhar e dirigir pelos vinhedos da Côte de Beaune e da Côte de Nuits foi, mais uma vez, um dos pontos altos da viagem. Em Beaune e arredores, explorei vinhedos históricos como Montrachet, Corton e Charlemagne, enquanto na Côte de Nuits percorri áreas lendárias como Romanée-Conti, Richebourg, La Tâche e Musigny – berços dos tintos mais emblemáticos da Borgonha.
Chassagne-Montrachet Fontaine Sot 2022 – Kei Shiogai e o Vosne-Romanée 1er Cru Cuvée Duvault-Blochet 2020 – Domaine de la Romanée-ContiVista do restaurante Au Fil du ClosVinhos degustados com o negociante Ayme Vadim
O encerramento da viagem foi no restaurante Cedric Burtin, em Saint-Rémy, duas estrelas Michelin. Escolhi harmonizar o menu de 10 etapas com dois vinhos especiais e difíceis de encontrar: o Chassagne-Montrachet Fontaine Sot 2022, do produtor Kei Shiogai e o Vosne-Romanée 1er Cru Cuvée Duvault-Blochet 2020, este último do tradicional Domaine de la Romanée-Conti.
Cada retorno à Borgonha reafirma uma certeza: por trás de cada parcela de terra e de cada garrafa, existe uma história de paciência, trabalho e respeito pelo tempo. E é essa combinação única que faz da região um convite permanente para quem deseja entender o vinho não apenas como bebida, mas como expressão profunda de um lugar no mundo.
* Neto Costa é sócio da Centro CATE Consultoria, criador do perfil @dochefamesa, especialista em experiências gastronômicas e idealizador do primeiro ranking gastronômico de Ribeirão Preto.
Experiências entre vinhos e história em Borgonha, na França
Famosa por seus vinhos e vinícolas, a região francesa de Borgonha é considerada a “meca” dos enófilos; um lugar de tradição e vinhos únicos
Por Neto Costa*
Falar sobre vinhos é, inevitavelmente, falar sobre a Borgonha, berço de alguns dos vinhos mais respeitados do mundo. Com registros de cultivo que remontam ao Império Romano e um sistema de classificação consolidado desde a Idade Média, a região francesa é famosa por seu modelo de vinificação que valoriza ao máximo o conceito de terroir – a influência específica do solo, do clima e da tradição em cada parcela de terra.
Seus vinhos são divididos em quatro níveis: Grand Cru (o ápice da qualidade, representando menos de 2% da produção), Premier Cru (vinhos de altíssimo nível, oriundos de vinhedos classificados dentro das comunas), Village (produzidos em comunas específicas como Meursault, Vosne-Romanée, entre outras) e Régional (vinhos que abrangem toda a região da Borgonha sem delimitação comunal).
Para quem, como eu, tem no Pinot Noir a uva predileta entre os tintos, e no Chardonnay, a escolha entre os brancos, a Borgonha é a verdadeira “meca”, um território onde tradição, precisão e respeito ao solo moldam vinhos que expressam como poucos a identidade de cada lugar.
Onde tudo é tradição
Nesta viagem, escolhi me hospedar no La Cuverie de Vosne Romanée, propriedade de Jean-Louis Michel Belair, que é o nome à frente do prestigiado Château du Comte Liger-Belair. O local é um dos domínios mais respeitados de Vosne-Romanée, famoso por parcelas excepcionais como La Romanée e Clos du Château. O hotel, que possui apenas quatro suítes, é intimista e pensado para os apreciadores da cultura local. Fiquei na Junior Suite du Général-Comte, que homenageia o fundador do château, e que ainda oferecia uma varanda com vista direta para o vinhedo Clos du Château, uma das joias da propriedade.
Entre as visitas marcantes, destaco a degustação com o negociante Ayme Vadim, que vem se consolidando pela produção de vinhos de alta qualidade em microvinificações. Provei seis cuvées de Grand Crus, ressaltando o Corton-Charlemagne 2017, uma produção limitada a apenas 300 garrafas e que se revelou o ponto alto da degustação.
Em Beaune, considerada o centro comercial e cultural da Borgonha, a visita ao Hospices de Beaune é obrigatória. Fundado em 1443, o antigo hospital de caridade é hoje um dos monumentos históricos mais importantes da França e palco do renomado leilão anual de vinhos. Sua arquitetura e sua história estão entre os grandes legados da viticultura borgonhesa.
Na Côte de Beaune, escolhi novamente Meursault como uma das bases para explorar a gastronomia local. A vila, conhecida pelos seus brancos elegantes, abriga duas casas que merecem destaque.
No Restaurante Le Soufflot, além de um menu degustação bem executado, a carta apresenta excelentes oportunidades para quem busca vinhos da região a preços justos. Foi lá que provei um raro Domaine Bizot Marsannay Clos du Roy.
Já no Au Fil du Clos, destaco o Soufflé d’époisses, que harmonizei com um Coche-Dury Meursault Les Rougeots, reforçando a precisão que a região imprime aos seus grandes brancos.
Além dos restaurantes, caminhar e dirigir pelos vinhedos da Côte de Beaune e da Côte de Nuits foi, mais uma vez, um dos pontos altos da viagem. Em Beaune e arredores, explorei vinhedos históricos como Montrachet, Corton e Charlemagne, enquanto na Côte de Nuits percorri áreas lendárias como Romanée-Conti, Richebourg, La Tâche e Musigny – berços dos tintos mais emblemáticos da Borgonha.
O encerramento da viagem foi no restaurante Cedric Burtin, em Saint-Rémy, duas estrelas Michelin. Escolhi harmonizar o menu de 10 etapas com dois vinhos especiais e difíceis de encontrar: o Chassagne-Montrachet Fontaine Sot 2022, do produtor Kei Shiogai e o Vosne-Romanée 1er Cru Cuvée Duvault-Blochet 2020, este último do tradicional Domaine de la Romanée-Conti.
Cada retorno à Borgonha reafirma uma certeza: por trás de cada parcela de terra e de cada garrafa, existe uma história de paciência, trabalho e respeito pelo tempo. E é essa combinação única que faz da região um convite permanente para quem deseja entender o vinho não apenas como bebida, mas como expressão profunda de um lugar no mundo.
* Neto Costa é sócio da Centro CATE Consultoria, criador do perfil @dochefamesa, especialista em experiências gastronômicas e idealizador do primeiro ranking gastronômico de Ribeirão Preto.
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